Avaliar a fala e a linguagem de uma criança não é uma tarefa simples. Além de existirem diversas abordagens teóricas, no que se refere ao desenvolvimento e às possíveis causas de uma alteração de fala e linguagem, cada criança é um ser único e tem especificidades que devem ser levadas em consideração pelo Fonoaudiólogo.
Entretanto, existem alguns aspectos gerais que sempre devem ser observados quando recebemos um paciente com queixas relacionadas ao desenvolvimento de fala e linguagem. Para compreender como é realizada a avaliação, é necessário primeiramente entender…
O que é fala e linguagem e como se relacionam entre si
A realidade é que a fala e a linguagem não acontecem de forma separada. A linguagem, enquanto competência, é um conjunto de habilidades que envolve todo processamento linguístico, ou seja: é o pensamento, são as ideias e sentimentos, é a compreensão do significado das coisas, é a intenção de se comunicar (e fazer isso de maneira adequada ao contexto comunicativo), é a escolha da melhor forma de comunicar algo (seja por meio de desenhos, gestos, expressões, símbolos, escrita e/ou fala) e é também a capacidade de organizar palavras e frases de forma adequada, quando a comunicação se dá por meio da escrita ou da fala.
A fala é apenas uma maneira, dentre tantas outras, de exercer a linguagem. E, embora aconteça tudo ao mesmo tempo, enquanto fonoaudiólogos, por questões didáticas e para direcionar a intervenção fonoaudiológica, nós separamos a linguagem da fala. E nesse sentido, a fala é definida como um processamento motor, ou seja, é a programação, no cérebro, dos movimentos articulatórios necessários para verbalizar a mensagem pretendida e a execução neuromuscular (o ato de falar propriamente dito).
Com estes conceitos bem esclarecidos, já podemos abordar mais diretamente sobre a avaliação.
Dificilmente recebemos em consultório uma criança cujos pais se queixam de atraso de linguagem. Na maioria das vezes a queixa está relacionada à fala: “meu filho não fala”, “meu filho fala errado”, “não entendo o que meu filho fala”. Nesse momento, cabe ao Fonoaudiólogo realizar uma anamnese completa, para entender todos os detalhes de desenvolvimento desta criança, desde a gestação até os dias atuais, e realizar a avaliação de linguagem. Sim! Mesmo que queixa seja sobre a fala, deve-se investigar se o que essa criança tem é uma alteração específica de fala, como dificuldade em planejar e/ou executar os movimentos articulatórios OU se essa criança tem algo mais profundo, relacionado ao processamento cognitivo-linguístico, que está afetando o desenvolvimento de fala.
Observe o quadro abaixo:
Uma criança que não tem boa compreensão e/ou não tem intenção comunicativa, fatalmente não vai verbalizar nada, pois ela possui déficits em habilidades de linguagem que são indispensáveis para que a fala aconteça.
E COMO O FONOAUDIÓLOGO REALIZA A AVALIAÇÃO DE FALA E LINGUAGEM?
De um modo geral, existem dois tipos de procedimentos de avaliação fonoaudiológica: a observação comportamental e linguística da criança, em situações comunicativas espontâneas, e a aplicação de protocolos específicos.
A observação da criança em situações espontâneas é importante para que o fonoaudiólogo analise a linguagem como um todo e verifique a performance comunicativa que ela apresenta. Esse tipo de avaliação é mais subjetiva e pode ocorrer por meio de atividades lúdicas realizadas diretamente com a criança ou por meio da observação da interação da criança com os pais e/ou com outras crianças.
A avaliação por meio de protocolos é mais formal e direcionada. Normalmente, um protocolo possibilita verificar habilidades específicas de linguagem, níveis linguísticos e oferece parâmetros quanto ao desempenho esperado para cada faixa etária, com dados mais objetivos para a análise e acompanhamento do desenvolvimento de fala e linguagem infantil.
Ambos os procedimentos são importantes e complementares. Para realizar uma boa avaliação, o Fonoaudiólogo deve ter conhecimento profundo sobre o desenvolvimento típico de linguagem e sobre os distúrbios linguagem para que, ao observar a comunicação da criança, seja capaz de selecionar os protocolos mais adequados para cada caso.
Respeitando o esperado para cada faixa etária, a avaliação fonoaudiológica deve contemplar a organização dos diferentes níveis linguísticos (fonologia, sintaxe, semântica e pragmática) e aspectos da produção e compreensão da linguagem oral. Além disso, deve-se considerar o encaminhamento do paciente para outros profissionais, para a realização de exames complementares que se fizerem necessários. É dessa forma que ocorrerá o processo diagnóstico para estabelecer uma boa conduta de intervenção.