Os processos de Aprendizagem estão intimamente ligados ao desenvolvimento das Habilidades de Linguagem e demais funções correlacionadas a este desenvolvimento que necessitam de um olhar diferenciado. Para aprender a ler e escrever por exemplo, considerando que nosso sistema de escrita é um sistema alfabético, ser capaz de corresponder adequadamente letras e sons nos permite ser funcionais durante os processos de codificação e decodificação, para que assim possamos atingir a compreensão.
Vamos exemplificar!
Quando o escolar começa a arriscar suas primeiras palavrinhas escritas, o caminho sempre será associar a própria fala com os sons que as letras podem produzir, o famoso apoio na oralidade. Só nesta fase, inúmeros processos e habilidades precisaram se desenvolver anteriormente e outros ainda estão em desenvolvimento, para que seja de fato possível alcançar a competência de leitura e de escrita. Portanto, para que o aluno consiga transformar estímulos visuais em estímulos sonoros e vice e versa, unidos ao ato motor de desenhar as letras no papel no caso da escrita, muitos processos foram estimulados e monitorados já na Educação Infantil, a fim de facilitar esse desempenho. Este acompanhamento do aprendizado continua sendo pertinente durante os anos inicias de Alfabetização, afinal, relacionar grafemas e fonemas não é o suficiente, visto que é preciso além da qualidade de leitura e escrita, ter fluência e interpretação do conteúdo e planejamento adequado para produções textuais.
E se falarmos de Habilidades Matemáticas, elas também devem ser monitoradas, considerando seu desenvolvimento e aprimoramento como parte do mesmo contexto, já que muitas vezes, estaremos acessando as mesmas áreas cerebrais e utilizando as mesmas habilidades que nos são solicitadas durante a leitura e a escrita.
Tudo o que foi dito até aqui, nos remete aos alunos típicos, sem alterações de desenvolvimento e aprendizado. Mas quando nos direcionamos aos escolares de risco ou com algum tipo de diagnóstico, o trabalho de estimulação, monitoramento e orientação se faz ainda mais necessário para garantir o que chamamos de “Educação para todos”, por todo o período acadêmico do indivíduo.
E o que a Fonoaudiologia tem a ver com isso?
Uma das importantes áreas da Fonoaudiologia, é a área Educacional, onde o profissional exerce uma função de extrema importância dentro da Educação.
Podendo atuar de diversas formas e em todos as fases, desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, é o profissional com o conhecimento necessário sobre o desenvolvimento da Linguagem Oral e Escrita e todos os possíveis diagnósticos que podem ocorrer durante cada fase escolar.
E como entender sobre os processos de Aprendizagem e seus transtornos não é o bastante, também é o profissional capaz de avaliar, monitorar, orientar, encaminhar e desenvolver ações que facilitem o desempenho dos alunos, sejam eles típicos ou não.
Mas o trabalho do Fonoaudiólogo Educacional direciona-se apenas aos escolares?
A Fonoaudiologia Educacional não é uma área que atua apenas com os alunos. Sabemos que o educador é parte fundamental em todo o processo acadêmico. Ele é muitas vezes o primeiro a levantar uma hipótese de dificuldade, em qualquer aspecto do desenvolvimento. Com um olhar acurado para tal, é um dos principais parceiros do trabalho fonoaudiológico, já que o trabalho estruturado em equipe, é garantia de ótimos resultados.
As diversas ações e programas executados pela Fonoaudiologia dentro da Educação, tem como cúmplice efetivo o educador, que bem orientado, com o planejamento e informações necessárias, aumenta a produtividade da turma, facilitando seu próprio trabalho e garantindo a evolução dos alunos.
Assim como os professores, os pais e responsáveis também são de extrema importância para que a engrenagem da educação funcione. Eles necessitam de orientação e acolhimento constante para que compreendam a individualidade de seus filhos e seu papel no processo educacional. A tríade educador, família e fonoaudiologia é tudo que o escolar precisa para ter um acompanhamento digno.
Sendo assim, o trabalho da Fonoaudiologia respeita todos os aspectos do aluno, seja em sala de aula, no âmbito familiar e dentro de suas necessidades e individualidades. Respeita também os marcos de desenvolvimento e cada uma das fases acadêmicas.
Focos de Atuação Fonoaudiológica dentro das escolas
· Avaliação dos alunos através de Rastreios Coletivos e Individuais
· Monitoramento do aprendizado e desenvolvimento dos escolares
· Desenvolvimento de ações, modelos e programas que visem a estimulação das Habilidades de Linguagem, Habilidades Preditoras da Alfabetização e Habilidades Matemáticas
· Realização de Projetos que visem estimular e facilitar o desempenho do aluno em suas competências escolares, como por exemplo a Ortografia e a Produção textual
· Orientações de pais e responsáveis através de reuniões informativas
· Encaminhamentos de alunos para intervenções e diagnósticos
· Monitoramento de alunos em tratamento e processo diagnóstico extraescolar
· Ações de Inclusão conforme demanda
· Planejamento Pedagógico junto a Equipe escolar
· Capacitações para Profissionais da Educação
· Assessoria Educacional
Obs: O atendimento terapêutico não é umas das atribuições do fonoaudiólogo educacional, sendo vetado pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia.
Texto elaborado por Daniela Borges, Fonoaudióloga Educacional Clínica e Institucional, especialista em Linguagem.
CRFa: 2-15523
Referências Bibliográficas
1. Buzetti MC, Capellini SA. Habilidades Preditoras da Alfabetização. Ribeirão Preto: BookToy, 2020.
2. Bastos JA. O Cérebro e a Matemática. São José do Rio Preto: Editora, 2000.
3. Andrade OVCA, Andrade PE, Capellini AS. Modelo de Resposta à Intervenção RTI. São José dos Campos: Pulso, 2014.
4. Alves LM, Mousinho R, Capellini AS. Dislexia, novos tempos novas perspectivas Vol.IV. Rio de Janeiro: Wak 2018.